Esta etapa entre Los Arcos e Logroño é um pouco mais longa do que as outras que você estava acostumado. Com pouco mais de 27 quilômetros, vou dividi-la em três partes, tendo como base as principais cidades.
Assim podemos dizer que a primeira parte, de Los Arcos a Sansol/Torres del Rio, é uma etapa de nível fácil, com relevo pouco acidentado.
Já a segunda parte, entre Torres de Rio e Viana, eu considero um pouco cansativa, pois há muitas subidas e descidas, algumas bastante íngremes.
E, finalmente, a última parte, entre Viana a Logroño, também é fácil, ao menos até pouco antes de chegar ao destino. No final deste trecho vai encontrar algumas boas subidas, mas… ânimo! Já está no final! Vou descrever abaixo cada um destes trechos do Caminho de Santiago de Compostela.
Neste artigo você vai encontrar:
Los Arcos a Torres del Rio
A saída de Los Arcos é bastante tranquila. No começo tem uma subida com cerca de 600 metros de extensão que eu considero relativamente leve. Depois o trecho é plano, tendo os tradicionais sobe e desce, mas nada que mereça destaque. Chegando perto de Sansol vai ter uma ou outra subida maior, mas, como sempre, um grande aclive para chegar em Sansol. Nos últimos quilômetros você caminhará na rodovia, ou seja, asfalto.
Sansol é um pueblo que tem alguma estrutura, como farmácia, bares e albergue. Mesmo assim, os peregrinos que resolvem passar de Los Arcos para fazer um trecho mais curto no outro dia vão até Torres del Rio, que é grudado em Sansol. Apenas 800 metros separam os dois pueblos. Estes poucos metros, porém, não são planos. Há uma grande descida e em seguida uma subida forte na entrada de Torres del Rio. Bem no começo da subida tem uma fonte do lado esquerdo. Aproveite para pegar água bem fresca.
Em Torres del Rio vai encontrar mais bares e albergues que em Sansol. Costumo parar aí para tomar um segundo café da manhã e pegar fôlego para o que vem pela frente. Na saída deste pueblo você vai passar pela Igreja do Santo Sepulcro, de origem templária. Esta igreja, construída entre 1160 e 1170, tem formato octogonal, como a Igreja de Santa Maria de Eunate. Para visitá-la terá que pagar uma pequena taxa, algo simbólico, como 1 euro. Eu ia dizer que não custa parar e fazer uma visita rápida, mas custa sim, um euro! Mas não conhecê-la por dentro trará arrependimento mais tarde, talvez esta pequena economia não seja uma boa. 🙂
Torres del Rio a Viana
Este trecho tem cerca de 10,5 quilômetros e vai exigir um pouco do seu físico. A saída de Torres del Rio já começa difícil. Vai ter uma ladeira bem forte por 500 metros aproximadamente, até o cemitério. Aliás, já vai ter lareiras para atravessar o pueblo.
Do ponto mais alto (km 11,1 aproximadamente) começa um declive muito inclinado. Tem placas no local indicando a inclinação (10%) e alertando para ter cuidado. Nesta descida tem alguns “atalhos”, mas não caia nesta, pois pode machucar-se muito (o trocadilho foi sem querer!). Apesar da altitude média ir sempre baixando até Viana, o relevo é bastante acidentado. Ou seja, vai precisar enfrentar diversos morros.
Depois mais 500 metros um pouco menos íngreme, até a primeira descida. Mas logo em seguida começa a subir novamente. De Torres del Rio (altitude 460 metros) até o ponto mais alto da etapa (577 metros) são aproximadamente 3,6 quilômetros, com muitas subidas e descidas. No km 10,1 vai encontrar a Ermita de la Virgen del Poyo, onde terá uma mesa com um banco de pedra ao lado. Pode aproveitar para descansar neste lugar que fica bem próximo ao segundo ponto mais alto da etapa (568 metros). Saindo deste lugar vai ter uma grande descida para então subir novamente. Mas atenção! Caminhará um pequeno trecho junto à rodovia, muito cuidado!
Finalmente, chegando em Viana!
No km 14,4 vai encontrar o asfalto novamente, e vai acompanha-lo de perto. Isso quando não caminhar sobre ele. Este lugar tem uma bela vista, pois não há ponto mais alto até Viana. Pouco mais para a frente poderá ver a cidade se aproximando. O pior deste trecho ficou para trás. Chegando na entrada de Viana adivinhe o que vai encontrar… sim! Subida! Mas na linda cidade murada você poderá descansar um pouco.
Já pernoitei em Viana algumas vezes. A primeira, em 2009, fiquei no albergue municipal, chamado de Alberguería Andrés Muñoz. Bom albergue, bem localizado e conta com armários com chave. Acho que foi o único albergue que encontrei beliches de 3 andares. Fiquei também no albergue situado logo na entrada (albergue Izar). O único porém deste albergue privado é que fica no começo da ladeira da entrada. Mas nada que atrapalhe, são poucos metros até a parte alta da cidade.
Em Viana não deixe de visitar Igreja de Santa Maria. Torça para ela estar aberta quando passar por ali. A praça em frente à igreja é um ótimo espaço para descansar. Outro lugar interessante é a Igreja de São Pedro, ou melhor, as ruínas da Igreja de São Pedro. Edificada no século XIII, foi usada como quartel na Primeira Guerra Carlista, devido à sua posição estratégica. No século XVIII resolveram realizar obras de ampliação, o que acabou forçando muito as principais estruturas, ocasionando um grande desabamento em 1844. Atrás das ruínas tem um pequeno parque com uma vista linda.
Viana a Logroño
O lado bom de Viana ser no alto é que a saída é uma descida. Nada grandioso, só um pouco de descida e então um grande trecho praticamente plano. Se você começar sua etapa aqui não vai encontrar dificuldade alguma, pois não estará cansado do sobe e desce do trecho anterior, entre Torres del Rio e Viana, e o sol não estará forte ainda. Serão quase 3 quilômetros onde o que predomina é a descida, tão leve que talvez você não perceba isto. É bom alertar que neste trecho tem pouca sombra, então, dependendo do horário, o grande vilão será o Sol.
Depois de cruzar a rodovia (por baixo dela) você vai andar cerca de 1200 metros, até encontrar a Ermita de la Virgen de Cuevas (km 21.1). Daqui para a frente só vai ter lugar para fazer uma pausa muito perto de Logroño. Se quiser descansar, há uma área arborizada atrás da Ermita, onde tem uma fonte. Depois disso, você vai caminhar mais um pouco até passar por dois pequenos morros, mas como são muito fáceis nem vale a pena falar muito deles. Do km 22,5 ao 23,5 caminhará em uma área muito arborizada, que pode melhorar um pouco as condições deste trecho, pois o sol já deve estar bem forte. No km 22.6 vai ter uma passarela por cima da carretera. Quando fui em 2009 ela ainda não existia, o que tornava esta travessia muito perigosa. De cima da passarela você vai ter uma visão muito bonita da estrada, com Logroño ao fundo de um lado e Viana do outro. Caminhará até o fim da área arborizada sempre com piso de terra batida (ou barro, se choveu).
Cruzando a fronteira entre a Navarra e La Rioja
Atravessando a fronteira vai perceber que o piso muda. A partir deste ponto caminhará sobre o asfalto, o que não é muito confortável para os pés. Outro ponto negativo do asfalto é que você sentirá mais calor nos dias ensolarados. Já na chuva, não terá lama, o que ajuda muito. Além do piso diferente, vai começar o aclive. Nos próximos 1,5 quilômetros vai subir de 384 metros de altitude para 437 metros. Mas depois, só descida! Mesmo assim, este último pedaço com subida é bastante desgastante.
Ao chegar no km 23.7 você passará por uma pequena ponte sobre um riacho. Estará cruzando a fronteira entre a Navarra e La Rioja, a famosa região dos vinhos. Aproveite bastante para tomar vinho bom e barato, se comparar com os padrões de preço no Brasil. Não que os vinhos das outras regiões da Espanha não sejam bons, apenas fiz o comentário porque La Rioja é uma região muito conhecida pelos vinhos que produz.
Parada obrigatória: Felisa – Figos, Água e Amor
Chegando ao km 26, já no declive, encontrará uma placa: “sellado de peregrinos Felisa”. Pare neste ponto para carimbar sua credencial e quem sabe, tomar um café. Como bom peregrino contribua, é claro, com um pequeno donativo. Explicando o motivo da parada: Felisa era uma senhora que foi um dia encarregada pelo padre de carimbar as credenciais dos peregrinos. Fez este trabalho com muito afinco, e ia além disso. Oferecia aos caminhantes, já muito cansados, figos, água fresca e um lugar para sentar e descansar um pouco. Pedia apenas que deixassem uma mensagem em um livro. Felisa morreu em 2002 perto de completar 92 anos. Sua filha Mari continuou então o trabalho da mãe, cuidando dos peregrinos que ali passam. No carimbo vem escrito “Felisa, Higos – Agua y Amor” (Felisa, figos – água e amor), que é o que ela oferecia aos peregrinos. Farei um artigo sobre ela mais tarde. Enquanto isso, pode ler sua linda história (em Espanhol) no blog do Sr. Alberto Solana.
Chegando em Logroño
Da casa da Felisa faltam apenas 1,5 quilômetros. A ansiedade e o cansaço fazem parecer mais que isso, mas em aproximadamente 20 minutos estará chegando ao albergue. No km 27,1 passara pela ponte sobre o Rio Ebro, com extensão de uns 200 metros. Saindo da ponte já estará bem perto do albergue municipal. Continuando o trajeto por mais 300 metros depois do albergue municipal encontrará o albergue paroquial. Ouvi falar muito bem deste albergue e vi boas avaliações no Guia Consumer, da Fundação Eroski. Só preste atenção, pois não há uma indicação clara de que ali é um albergue. Para ter certeza, é o número 8 da rua.
Logroño é uma cidade bem grande. Se precisar de algo aproveite que este é o lugar onde encontrará todo tipo de comércio e serviços. Tendo algum tempo livre, conheça o centro histórico da cidade. E descanse. Muito. A próxima etapa também é longa e muito cansativa!
Buen Camino
Mapa e Altimetria da Etapa
Albergues e Outras Acomodações
Los Arcos (Navarra)
População: 1200
Albergues
Sansol (Navarra)
População: 104
Albergues
Torres del Río (Navarra)
População: 126
Albergues
Viana (Navarra)
População: 4150
Albergues
Logroño (La Rioja)
População: 151113
Bom dia!
Agradeço imensamente seus posts que em muito têm me auxiliado nesta etapa de preparação.
Passagens em mãos e inicio dia 17/09/2017.
Não localizei a 6ª Etapa…
Abraço!
Olá Ana Christina!
Já está com as passagens para 17/09? Uau! Agora não tem mais como fugir, vai ter que ir… 🙂
A 6ª etapa você pode encontrar no link ETAPAS, no menu que fica parte de cima do blog, ou em CATEGORIAS, do lado direito. Mas, para facilitar… aí vai o link! https://www.meuscaminhos.com.br/caminho-de-santiago/etapa-estella_los-arcos/
Espero que esteja gostando do blog. Tendo qualquer dúvida ou sugestão, por favor me passe. As vezes não sei por onde começar ou o que devo escrever na sequência, então ideias sempre são bem vindas!
Um abraço,
Claudio
Olá Ana, fiquei feliz em ver que em setembro estará a caminjo de Santiago. E como estão os preparatórios. Você vai sozinha? Tb quero fazer mas estou receiosa de ir soInha. O que me diz?.
Um abraço.
Shirley
Olá Maria Shirley!
Vou me intrometer na sua conversa… rs
Muitas mulheres fazem o Caminho sozinhas. Lá você faz amizades e só anda sozinha se quiser. E dificilmente andar sozinha será um problema. Siga sempre as flechas amarelas e tudo estará bem!
Um abraço!
OI! Tambem farei o caminho em setembro! Será um marco do meu aniversario de 40 anos!!! O dia é 19, então estou preparando pra embarcar na segunda quinzena de sentembro!!! Nos veremo slá!!1
Boa noite!
Os comentários e dicas nos ajuda muito na preparação da caminhada, gostaria de saber se o mes de julho/agosto é muito complicado para se fazer o caminho francês completo como já li em outros sites.
Abraços
Olá Sinval!
Desculpe a demora para responder, tive problema com meu servidor de e-mail, mas está resolvido.
Eu nunca fiz em julho/agosto. É verão no hemisfério norte e período de férias. O Caminho acaba abarrotado de gente e os albergues lotam rápido. Os europeus aproveitam as férias para fazer o Caminho ou parte dele. O mesmo acontece quando há algum feriado prolongado, como 1º de maio quando cai numa terça, quarta ou quinta.
O Calor também é insuportável, não sendo possível caminhar depois das 10hs até as 16 horas, aproximadamente. Eu recomendo que vá na primavera ou no início do outono. Setembro é uma boa época para ir também.
Mas assim, quem não tem como ir em outra época, não tem jeito. Mas tem que estar ciente que tem que acordar de madrugada e ser um dos primeiros sair, para chegar a tempo de ter vaga no albergue e não caminhar sob o sol forte.
Espero ter ajudado! 🙂
Um abraço
Claudio, boa tarde!
Eu fiz o caminho o ano passado, saindo no dia 11.09.2017, de Saint Jean. a Santiago e ainda fomos, eu e mais 3 amigos alagoanos até Finisterra, de coche. Adorei e tenho vontade de fazer mais uma vez.
Foi simplesmente maravilhoso. Ainda sonho refazendo o percurso.
Olá Kadmo!
Obrigado por escrever seu comentário!
Minha mãe avisava a todos: “não faça o Caminho de Santiago. Você vai querer fazer sempre!”. Certamente você é um que concorda com isso, não é mesmo? O Caminho de Santiago realmente é especial. Se quiser fazer um relato para o blog, inclusive enviando fotos, eu publico aqui!
Aproveitando, talvez você possa ajudar uma peregrina que acabei de responder no artigo sobre onde começa o Caminho de Santiago. Ela quer saber como são as temperaturas em setembro, período que você foi! Eu sempre vou em abril/maio. Respondi pelo que sei, mas talvez você possa dar uma resposta mais exata para ela! Agradeço se puder ajudá-la!
Um abraço e Bom Caminho (já que sei que vai novamente um dia!)
Claudio