Esta é uma etapa que pode ser fácil ou não, dependendo do clima. Se tiver chovido nos últimos dias você encontrará um trecho de muito barro, daqueles que faz a bota grudar no chão.
Claro que tudo pode mudar no Caminho de Santiago, é comum criarem facilidades para o peregrino. Estas facilidades nem sempre são bem-vindas, pois muitas vezes acabam diminuindo a beleza do Caminho, além de tornar aquele pedaço muito duro para o caminhante. É o caso dos trechos onde colocaram piso de cimento onde era terra batida.
Tirando a parte que pode ter bastante barro, cerca de 5 quilômetros, o resto eu considero fácil. Mas se você resolver ir direto de Burgos a Hontanas, considere que entre Hornillos del Camino e Hontanas não tem sombra nem lugares para descanso.
Neste artigo você vai encontrar:
De Hornillos del Camino a Castrojeriz
No fim do pueblo tem uma bifurcação, o Caminho segue pela direita. Não se preocupe, está tudo bem sinalizado. A partir deste ponto começa uma leve subida, você vai de 824m até 934m.
Esse aclive não é nada muito difícil, pois chegará ao ponto máximo em 3,5 quilômetros. Ou seja, uma inclinação média de 2,2º. Claro que com variações, algumas vezes uma subidinha mais inclinada, outras vezes uma pequena descida, mas nada que vá te cansar muito. Principalmente se iniciou este trecho em Hornillos del Camino.
Depois que terminar de subir, serão cerca de 1,15 quilômetros de terreno praticamente plano, apenas pequenas variações de altitude não superiores que alguns metros.
A paisagem é um pouco monótona, dependendo da época pode ter plantações, neve ou apenas terra, e nada de montanhas ou árvores no horizonte.
Neste trecho plano, no km 4,6, encontrará um cruzamento. Deste ponto em diante terá muito barro, caso tenha chovido nos dias anteriores. E, como já disse, caminhar no barro cansa bastante, pois este barro é daqueles que afunda o pé. Contudo, não se preocupe, é só ter um pouco de paciência e não terá problemas.
Arroyo San Bol
Os próximos 900 metros serão de descida, indo da altitude de 936 m até 889 m. Neste ponto mais baixo, onde você já terá caminhado cerca de 5,6 quilômetros. Você vai cruzar com uma pequena estrada. Olhando para a esquerda você vai ver que ela leva até o que parece ser uma casinha no meio do nada. Este é o albergue de Arroyo San Bol.
Este albergue é bem simples, não tem nada (não é uma expressão, quero dizer nada mesmo!) à sua volta. Até alguns anos atrás não tinha nem energia elétrica. As coisas foram mudando com o tempo, agora tem eletricidade, água quente para o banho, servem a famosa cena comunitaria (jantar) e tem alguns produtos para o peregrino. O importante é que (dizem, não fiquei ali, mas acredito) ali você terá uma bela experiência peregrina. Além de poder observar as estrelas, pois estará longe das cidades grandes. Nunca fiquei ali, mas já tenho planos para isso no futuro.
Esta pode ser uma boa alternativa para esticar um pouco mais a etapa anterior, sem ter que andar até Hontanas.
San Bol até Hontanas
Algumas (poucas) pessoas desviam o caminho até San Bol para dar uma descansada e tomar um pouco de água fresca. A maioria passa reto pois são 300 metros para chegar no albergue, além de ter ser uma pequena descida (tem que subir para voltar). Mesmo sendo apenas 10 metros de diferença na altitude, todos pensam duas vezes quando se fala em subir novamente na volta. 🙂
Continuando do ponto onde a estrada que leva ao albergue Arroyo San Bol, serão 1.350 metros de subida, indo até 930 metros de altitude, uma elevação de 40 metros ou pouco mais.
Depois de ter recuperado a altitude, serão pouco mais de 4 quilômetros até Hontanas. A paisagem continua a mesma, monótona. Mas tudo isso faz parte do Caminho de Santiago e sempre é compensador! O que pode deixar o peregrino um pouco cansado, com a sensação de que a distância é maior, é a cidade ficar num terreno mais baixo. Você anda, anda, e não vê que está chegando. Só vai saber quando estiver bem perto.
Em Hontanas tem vários albergues e lugares para fazer uma pausa, comer e descansar. A “cidade” é um grande declive. Os albergues ficam próximos uns aos outros, portanto você tem opções de escolha, se sua caminhada terminar aqui neste dia.
Hontanas a Castrojeriz
Hontanas é um pequeno pueblo que fica em uma grande ladeira, como já falei. Apesar de pequeno, tem boa estrutura para o peregrino, pois é considerado como fim de etapa para alguns guias.
Ao chegar ao fim deste lugarejo você vai cruzar uma estrada de asfalto. Logo em seguida vai subir um pouco, mas nada que valha a pena considerar. Do ponto mais alto, poucos metros acima do asfalto, será aproximadamente 9 quilômetros de chão até Castrojeriz. O trecho é bem tranquilo, mesmo com chuva. A maior parte será no asfalto, o único perigo é o tráfego de veículos. Procure andar fora do asfalto quando possível e sempre (sempre!) do lado esquerdo da estrada. Apesar de parecer calmo, o trânsito de veículos não é nulo, sempre tem carros passando. A aparência de tranquilidade pode enganar os peregrinos, portanto, muito cuidado!
Pouco mais de 3 quilômetros antes e chegar em Castrojeriz, na estrada mesmo, vai encontrar as ruínas do monastério de San Antón. Vale a pena uma paradinha. E ainda pode usar como desculpa para descansar uns minutinhos!
Monasterio de San Anton
Pouco antes de entrar em Castrojeriz você vai passar por um monumento. São as ruínas do Hospital Geral de San Antón Abad. Este mosteiro foi fundado por Alfonso VII, em 1146. Porém, os restos que permanecem desta construção são do século XIV.
Você vai passar por baixo dos dois arcos do pórtico que protegia a entrada da igreja. Será possível ver também o que sobrou do que seriam dois “armários” onde era colocada comida para os peregrinos que chegavam fora de hora.
Na igreja, de três naves, curava-se de uma doença chamada ergotismo, na época chamada de “fogo de Santo Antônio“. Era uma doença causada pela ingestão de alimentos derivados de farinha, tais como pães (bastante consumidos na época) e cervejas, misturada com um fungo (o esporão do centeio).
Castrojeriz
Castrojeriz é uma localidade com pouco mais de 800 habitantes. É um lugar interessante, com bons albergues, bares e restaurantes. Também é considerado por alguns guias como fim de etapa. Já comentei antes que fiquei somente uma vez em Castrojeriz, sempre dividia o pedaço entre Burgos e Frómista (ou entre Burgos e Boadilla del Camino) em duas partes. Prefiro ficar em Castrojeriz, apesar de “perder” um dia para fazer a divisão desta forma. Gostei desta localidade, mas nunca tive oportunidade (ou força de vontade) de conhecer o castelo que se localiza no morro junto à Castrojeriz. Ou melhor, Castrojeriz fica aos pés do morro onde tem as ruínas do castelo. A rua principal contorna o morro, da mesma forma que acontece em Navarrete, mas de uma forma mais discreta. A pequena cidade acompanha esta rua, rota dos peregrinos.
O pueblo de Castrojeriz já foi ocupado por celtas, romanos, visigodos, árabes e por ultimo por cristãos. Importantes batalhas entre cristãos e mouros ocorreram em seu castelo. Se você tiver a disposição que eu não tive, procure conhecer o castelo de Castrojeriz, certamente será uma interessante experiência!
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Bom Caminho!
Mapa e Altimetria da Etapa
Albergues e Outras Acomodações
Hornillos del Camino (Burgos)
População: 60
Albergues
San Bol (Burgos)
População: 5
Albergues
Hontanas (Burgos)
População: 70
Albergues
Castrojeriz (Burgos)
População: 880
Oi Claudio! Muito lehal seu blog! Eu vou fazeros ultimos 200 km do Caminho (de Sarria a Compostela) mes que vem. Estou contando os dias.. o que vc pode compartilhar comigo sobre este trecho final?
Obrigada e Bom Caminho!
Flavia
Oi Flavia!
Primeiramente gostaria de agradecer pelo elogio. É muito bom saber que gostou do blog!
Desculpe corrigi-la, mas de Sarria a Santiago de Compostela são 100, e não 200km. Para esta distância vc teria que sair de Ponferrada. Como acredito que foi um erro de digitação, vou falar dos últimos 100km.
Sarria seria o km 111, mas é a maior cidade antes do km 100. Voce vai passar por pequenos pueblos até chegar em Portomarin. Isto se você não parar em outro lugar antes ou depois… 🙂 Neste trecho você pode parar em Morgade, onde há um bar no lado esquerdo, será um pouco depois de passar por Brea.
De Portomarin você vai, provavelmente, até Palas de Rei. Lá tem um bom albergue bem ao lado da igreja, na entrada. Daí muita gente vai direto para Arzua, 28km. Neste caso, você pode parar em Melide para fazer um descanso. Melide é a terra do Pulpo (polvo). Tem várias pulperias, sendo a Pulperia Ezequiel a mais conhecida. Fica na rua principal, do lado esquerdo. Você obrigatóriamente passa na frente.
Caso esteja cansada, ou então, se estiver fazendo um belo dia, pode ficar a 3km de Arzua, em Ribadiso de Baixo, em um albergue que fica bem na beira do rio de águas cristalinas. É um lugar onde existe praticamente só o albergue, mas tem bom restaurante/bar. Para descansar é ótimo!
Chegando perto do fim já, você pode ir até Pedroso (20km +-) ou andar 32km até o Monte do Gozo, a apenas 5km de Santiago de Compostela. A vantagem seria chegar bem cedo, mas vc cansaria bastante, em contrapartida. Independente qual seja a sua opção, saiba que os últimos 5km parecerão 20km. Trecho urbano, somado à ansiedade… mas aproveite cada metro!
Ah! Dois lugares interessantes depois de Arzua: em Salceda, logo que passsar a placa identificando este lugar, tem um bar do lado direito, a Casa Verde (dentro tem muitas camisetas penduradas no teto). As Sônias (mãe e filha) são muito gente boa, muito simpáticas. E Adoro o bocadillo de tortilla francesa con queso (sanduíche de omelete com queijo) que elas fazem lá! É um sanduíche enorme, já vou avisando! 🙂 Outro lugar é em Lavacolla, uns 2,5 km depois de passar por San Paio. Vai ter uma escadaria com uma igreja na parte de cima, e, se descer, vai chegar num bar chamado Botana (https://www.facebook.com/Bar-de-comidas-Botana-215003551995301/?rf=179496002179191). Ali você vai comer o maior bocadillo do Caminho de Santiago! 🙂
Bom, resumidamente é isso que lembro para falar. Ah! E lembre-se que na galícia tem os licores de Orujo (bebida típica da região). Adoro o de ervas e o de creme, mas o de café não fica para trás. Experimente gelados!
Um abraço e bom Caminho,
Claudio