A Lenda dos Pórticos Gêmeos e a Ermita de Eunate

A Lenda dos Pórticos Gêmeos de Eunate

Esta é a lenda dos pórticos gêmeos, sobre a Ermita de Eunate. A história resistiu ao tempo passando de pessoa a pessoa, foi assim que fiquei conhecendo-a. Da mesma forma, agora conto para você, pois acredito que não posso guardar só para mim esta curiosa lenda. Para quem gosta de mitologia, vai ser um prato cheio, pois envolve alguns personagens da mitologia basca!

E quem vai fazer o Caminho de Santiago certamente vai gostar, pois vai enriquecer um pouco mais sua peregrinação. Isto porque a Igreja de Santa Maria de Eunate fica no Caminho Aragonês, mas a poucos quilômetros do Caminho Francês. Para ser mais exato, um desvio de aproximadamente 3 quilômetros para o peregrino que vai para de Muruzábal a Puente la Reina.

A Lenda dos Pórticos Gêmeos de Eunate e Olcoz

Igreja de Santa Maria de Eunate, também conhecida como Ermita de Eunate.
Igreja de Santa Maria de Eunate, também conhecida como Ermita de Eunate.

Conta-se que durante a construção da Ermita de Eunate o abade contratou um artesão para construir o pórtico. Este artesão era da região de Puente la Reina. Era o melhor escultor que havia por lá, muito conhecido pela qualidade de suas obras. Alguns dizem que ele pertencia à Ordem dos Templários, outros afirmam que era um monge comum. Bem, isto não faz diferença na história.

Depois de ter começado o trabalho de escultura do pórtico, o abade chamou o artista. Disse-lhe que devia fazer um outro trabalho, em outro lugar e que, ao voltar, terminaria o pórtico. Mas por obra do destino o monge adoeceu, e por isso ninguém sabia de seu paradeiro. O tempo foi passando e nada de alguém ter notícias do artesão, o que foi causando uma certa apreensão, pois ele precisava terminar o que começou.

O Substituto

Como o prazo para a entrega da obra estava chegando ao fim, o abade, preocupado, decidiu procurar alguém para substitui-lo. Convidou então um velho gigante, que vivia em um monte próximo ao local. O gigante era da antiga raça dos jentilak (jentil, no singular), que na mitologia basca eram gigantes com força sobre-humana, capazes de arremessar grandes pedras a quilômetros de distância. Os jentilak eram também especialistas em trabalho com pedra. E apesar de já estar aposentado, o jentil resolveu aceitar o desafio para não criar inimizade com os religiosos. E ele não só entregou a obra em tempo recorde como fez também um belíssimo trabalho, do qual todos admiraram-se.

A Volta do Primeiro Escultor

Estátua representando uma lâmia, da mitologia basca, com seus pés de ganso
Estátua representando uma lâmia, da mitologia basca, com seus pés de ganso.

Porém, passado alguns dias da entrega do pórtico, o primeiro escultor voltou. Ficou revoltado ao descobrir que passaram seu trabalho para outro concluir. Ele afirmava que poderia ter terminado a obra dentro do prazo, mesmo com seu longo período de afastamento. Reclamou da situação por todos os cantos, até que o abade, responsável pela obra, chamou-o para conversar. Disse ao monge que lhe daria o curto prazo de três dias para fazer outro pórtico, que deveria ser igual ou superior ao do gigante. E se não conseguisse, seria expulso por conta de sua vaidade e arrogância.

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Percebendo que não tinha muita saída, pois acreditava ser impossível fazer tão bela escultura em prazo tão reduzido, o monge entrou em desespero. Decidiu então procurar uma lamiñak (lâmia), uma sábia senhora (para alguns, feiticeira ou bruxa), que morava perto da fonte de Nequea. Ela então falou para o homem que tinha a solução. Contou que na fonte tinha uma serpente, e que na boca da serpente tinha uma pedra-da-lua. A serpente só descuidava da pedra quando entrava na água, pois a deixava apoiada nas ervas próximas à fonte. Ele deviria pegar a pedra-da-lua e seguir um ritual que a lâmia explicou. O único pagamento que ela queria era recer esta pedra, depois que ele a usasse.

Sendo assim, o artesão seguiu as instruções da feiticeira. Colocou uma outra pedra, virgem, em frente à que já tinha sido esculpida. Pegou um cálice de ouro, encheu-o com água da fonte e colocou a pedra-da-lua dentro do cálice.  Esperou até que a lua estivesse em seu máximo esplendor e colocou o cálice com a pedra-da-lua entre as duas pedras, a esculpida e a virgem. Desta forma, tudo que estava no pórtico pronto refletiu na pedra virgem, como um espelho, reproduzindo o desenho todo, porém de forma invertida.

Vídeo sobre a mitologia basca.

O Destino do Pórtico Gêmeo

Pórticos gêmeos, da Igreja de São Miguel, em Olcoz, e da Ermita de Santa Maria de Eunate, nesta ordem.
Estes são os pórticos gêmeos, da Igreja de São Miguel, em Olcoz, e da Ermita de Santa Maria de Eunate, nesta ordem.

O gigante, ao descobrir que seu trabalho foi plagiado, entrou em cólera. Ainda mais quando ficou sabendo que o outro artesão conseguiu o feito com o uso de magia! Ficou tão bravo que mandou todo seu trabalho para o pueblo (povoado) de Olcoz. Dizem alguns que tamanha era a sua ira que ele pegou a pedra e arremessou tão forte que foi parar neste outro lugar. E assim, o pórtico está até hoje na Igreja de São Miguel, em Olcoz. Muitos curiosos visitam os dois lugares para ver os dois pórticos iguais, porém com os desenhos invertidos.

Como você deve ter percebido, esta lenda é cheia de seres mitológicos. É incrível saber que a mitologia basca é tão rica e influente, com alguns rituais sendo praticados até hoje! Procure pesquisar um pouco mais sobre este assunto.  Tenho certeza que saber um pouco mais sobre este tema tornará sua caminhada até Santiago de Compostela muito mais interessante!

Buen Camino!

fontes

https://es.wikipedia.org/wiki/Mitolog%C3%ADa_vascahttp://www.wikiwand.com/fr/Lamina_(mythologie)http://laberintoromanico.blogspot.com.br
http://turismo.euskadi.eus/aa30-191442/pt/contenidos/informacion/aa30_folletos_issuu/pt_def/issuu_portugues.html

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